Uma grande preocupação na hora da corrida vem da utilização do calçado esportivo adequado. Um dos pontos muito discutidos e ao qual devemos falar é a questão do amortecimento.
O primeiro ponto é: ele realmente existe? Sim, cada marca com seu sistema (a maioria deles cumprindo bem o seu papel de amortecer o impacto) consegue de alguma forma dissipar a energia cinética do movimento na hora em que o pé transfere o peso sobre o solo. Inclusive existem graus de amortecimento, tênis com taxas inferiores e superiores de absorção de impacto.
Mas será que nosso corpo precisa dessa absorção de impacto? Essa é a grande questão…
Quando falamos de performance estamos falando no sentido contrário a isso. Quanto menos absorção, maior será a restituição de energia elástica em nossos tendões provocando um efeito tal qual a impulsão de uma mola (que armazena a energia quando comprimida para depois utilizá-la no sentido contrário quando afastada). Isso é importante para nosso corpo pois aumenta um fator biomecânico / fisiológico chamado economia de corrida que traduzindo em palavras simples seria ter um menor gasto energético para uma mesma velocidade / mecânica de corrida. É inspirado nesses princípios que as novas tecnologias vêm sendo desenvolvidas com tênis de altíssima performance.
Para o corredor recreativo talvez a história possa ser diferente. Tudo vai depender do objetivo desse corredor bem como as condições prévias dele.
Para deixar mais claro, podemos dizer que o tênis com alto índice de amortecimento é mais indicado a pessoas com menos experiência de treino e que consequentemente tem uma taxa de absorção interna do corpo a sobrecarga menor, fazendo com que um auxílio externo seja bem vindo. Conforme o indivíduo se torna mais experiente, seu corpo e suas estruturas físicas (tendões, ligamentos e musculatura) aprendem e melhoram os mecanismos de absorção desse impacto com melhoras na área de coordenação intra e inter musculares, pré ativação muscular (que vai contrair as musculaturas corretas para a absorção do impacto) e a resposta de componentes elásticos como já mencionamos acima.
Vale ressaltar que quanto maior for a absorção que dado tênis causa na corrida, maior será a força que o corredor terá de fazer para se deslocar, causando aquela sensação de "não estar rendendo" (para mesma velocidade e percurso, o tênis de maior absorção exige mais força para o deslocamento do que o tênis de menor absorção).
Outro mito que podemos colocar aqui em questão é que para distâncias mais longas, precisamos de tênis com mais absorção. Novamente a palavra chave aqui é depende. O que o corpo realmente precisa é de uma adaptação interna dessa sobrecarga maior. Talvez nos primeiros treinos para compensar o excesso a mais que o corpo não está acostumado até faça sentido. Porém com essa estratégia você diminui justamente a adaptação ao estímulo que demora mais tempo a ocorrer, valendo mais a pena uma progressão de volumes e intensidade mais gradual e consistente.
Então para quem é indicado esse amortecimento? Inicialmente para pessoas que não estejam acostumados a esse estímulo da corrida, principalmente se estiverem com sobrepeso corporal, ou para corridas recreativas sem o compromisso de melhoras de rendimento com maior comprometimento. É um perfil onde a ajuda externa será extremamente eficiente. Fora isso, a administração de cargas (volume e intensidades), é a chave para o sucesso.
Fábio Targas Gonçalves
CREF: 091562-G/SP
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